Dircinha Batista

Dircinha Batista
A Força Revolucionária da Música Popular Brasileira

quarta-feira, 3 de março de 2010

ESPETÁCULO MUSICAL RESGATOU A VIDA DAS IRMÃS BATISTA



Somos Irmãs


3/ 4/ 1998 - Rio de Janeiro/RJCentro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, RJ)


Musical biográfico, conta a vida das cantoras Linda e Dircinha Batista, estrelas da era do rádio.
A autora Sandra Louzada traz um registro emocional ao filão das biografias musicais que marcam o teatro carioca no final dos anos 90. A vida das cantoras Linda e Dircinha Batista, estrelas do rádio desde os anos 40 até o início da década de 60, é recapitulada em cena como lembrança das duas irmãs, já esquecidas e pobres. A narrativa estabelece assim dois planos, em que o passado de glória faz contraste com a triste realidade do presente. O plano da memória mostra a construção de suas carreiras e a idolatria provocada pela indústria nacional do entretenimento. No plano presente, o público assiste ao último dia de Linda em uma vida de decadência, no limite da dignidade. A autora não procura analisar ou fornecer informações que expliquem a decadência da dupla nem criticar a ideologia da cultura de massa. O crítico Macksen Luiz analisa o texto: "A presença de uma mãe dominadora, o alcoolismo de Linda, o desperdício do patrimônio e a fraqueza de um pai são apenas referências factuais, já que a autora ressalta, ao dramatizar tais acontecimentos, a impossibilidade das duas mulheres de ultrapassarem a dimensão irreal do sonho. Pela própria característica do gênero, esse musical não deixa de sofrer com um certo esquematismo dramatúrgico, que se arma em função da música e da maneira como esta se encaixa na trama. Mas o contraponto, tanto musical quanto dos planos de tempo (a carreira de sucesso e o declínio humano), se estabelece a partir de uma perspectiva inteiramente emotiva. Sandra Louzada vai avançando sobre a ascensão e decadência das Batista, procurando filtrar da história o aspecto que mais fortemente se identifica com o gesto humano, e não com o gesto público. E em nenhum instante Somos Irmãs fica piegas ou apela para algum sentimento piedoso, retirando apenas da trágica vida das cantoras a emoção que lhe é própria".1
O espetáculo, que se utiliza do repertório das cantoras para compor os números musicais e a trilha sonora, se torna o mais lacrimogêneo do período, principalmente porque os diretores não procuram apelar para efeitos de emoção fácil. Ney Matogrosso e Cininha de Paula investem em uma linguagem convencional, buscando a comunicabilidade e a vibração do gênero musical, chegando em algumas cenas ao feérico. Mas há momentos em que o espetáculo não disfarça seu objetivo emocional, como a reprodução da voz de Dircinha, ainda uma garotinha, cantando no seu primeiro disco, na cena em que a cantora vive a solidão depois da morte da irmã.
O crítico Macksen Luiz observa alguns pontos-chave do espetáculo: "Os efeitos do texto, em especial quando jogam a música sobre a dramaticidade de uma cena, fazendo com que os tempos cênicos se encontrem, são sempre um trunfo de comunicabilidade com a platéia. (...) O elenco de apoio, que atua com eficiência dentro do que é exigido, sofre um pouco com as cenas em que é levado a interpretar nomes conhecidos, como animadores de auditório, donos de cassinos e alguns personagens circunstanciais, pagando tributo à coreografia pouco inspirada e à inexpressividade dos tipos. (...) Nicette Bruno, Suely Franco, Cláudia Netto e Cláudia Lira, que fazem as irmãs Batista na juventude e na maturidade, têm boas atuações, capazes de dar a dimensão das fases da vida das cantoras e com vozes que projetam bem as músicas do repertório da dupla. Cláudia Netto é uma Dircinha assustada e perplexa na juventude e com a brejeirice exigida pela maioria das melodias que interpretava. Cláudia Lira faz uma composição física muito próxima da verdadeira Linda. Nos gestos, na impostação vocal e na agitação, a atriz compõe tão bem a cantora quanto melhor reflete os conflitos da mulher. Suely Franco, como Linda na idade madura, tem um trabalho que explora com sutileza a força patética que a personagem assume muitas vezes. E Nicette Bruno é uma Dircinha com um alcance trágico, feita de ausências, pequenos gestos, silêncios e comovente projeção de um mundo interior esfacelado. Um trabalho de emoção e interiorização. Um ótimo quarteto de atrizes".2
Notas
1. LUIZ, Macksen. Um ótimo quarteto de atrizes. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 07 abr. 1998.

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